Cobertura do rastreio do câncer de mama é baixa no SUS
Entre janeiro e agosto de 2025, o Sistema Único de Saúde (SUS) realizou mamografias suficientes para atender apenas uma fração das mulheres de 50 a 69 anos, faixa etária indicada para rastreamento do câncer de mama, alcançando cerca de 20% do público-alvo. No ano anterior, o percentual havia sido de 37%.
O levantamento considerou a razão de mamografias, indicador que compara o número de exames realizados com metade da população feminina na faixa etária, já que o rastreio é recomendado a cada dois anos. A análise foi feita pela startup Lifeshub com base em dados do Siscan, do Ministério da Saúde, além de informações do IBGE e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
O estudo revelou disparidades regionais significativas. Estados do Norte apresentaram os índices mais baixos, com Roraima realizando apenas 5% das mamografias necessárias, seguida por Tocantins (8%) e Pará (9%). Apesar disso, o Ministério da Saúde afirma que o SUS realizou 3,9 milhões de mamografias bilaterais de rastreamento em 2024, com 3.305 aparelhos disponíveis, número considerado suficiente para atender a população-alvo.
A análise também mostrou que, entre as usuárias do SUS, apenas 37% realizaram os exames em 2024, com grande variação entre regiões. Sul e Sudeste registraram cobertura acima de 50% em estados como Paraná, Santa Catarina e São Paulo, enquanto Norte e parte do Nordeste ficaram abaixo de 30%. Entre mulheres com planos de saúde, a cobertura foi significativamente maior, alcançando 73%, com destaque para Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, onde mais de 80% das mulheres foram rastreadas. Estados como Amazonas, Goiás e Roraima apresentaram cobertura inferior a 50%.
Alguns estados apresentaram dados subestimados devido à implantação parcial do Siscan, o que pode ter impactado a razão de mamografias calculada. Mesmo assim, os dados são considerados referência para análise de tendências em nível nacional, permitindo avaliar se o sistema consegue garantir a cobertura bianual recomendada.
O câncer de mama é o tipo mais comum e letal entre mulheres. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca) indicam que cerca de 73.610 mulheres poderão ser diagnosticadas com a doença entre 2023 e 2025. O baixo alcance do rastreio contribui para diagnósticos tardios, e dados do Inca mostram que aproximadamente 40% das mulheres diagnosticadas entre 2018 e 2022 já apresentavam a doença em estágio avançado ou metastático.
A cobertura efetiva do rastreamento também permanece baixa. Em 2024, cerca de 14% das mulheres do público-alvo realizaram mamografia, índice semelhante ao registrado nos primeiros meses de 2025 (13,9%). No biênio 2023-2024, a cobertura média do SUS foi de apenas 24,2% nos estados com mais de 90% de implantação do Siscan, sendo Roraima o estado com menor cobertura (5,3%) e Espírito Santo o de melhor desempenho (33,6%). Nenhum estado ultrapassou 35%, e a região Norte concentrou a maior parte das unidades com cobertura inferior a 20%.
Em setembro, o Ministério da Saúde anunciou medidas para ampliar o acesso à mamografia, permitindo que mulheres de 40 a 49 anos realizem o exame preventivo mesmo sem sintomas e estendendo o rastreamento sistemático para mulheres de 50 a 74 anos, antes limitado até 69 anos.
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