Disputa acirrada leva Jara e Kast ao segundo turno

A eleição presidencial chilena seguirá para um segundo turno entre Jeannette Jara, candidata da coalizão de esquerda apoiada pelo presidente Gabriel Boric, e o ultraconservador José Antonio Kast. A apuração parcial mostrou um cenário apertado: com pouco mais de 52% das urnas contabilizadas, Jara liderava com 26,58%, enquanto Kast vinha em seguida com 24,32%. A direita liberal também obteve expressão com Franco Parisi, que somava cerca de 18,84%.

O eleitorado chileno tem aproximadamente 15,7 milhões de pessoas — número semelhante ao da população do estado do Rio de Janeiro, estimada em 16 milhões segundo o Censo de 2022 do IBGE.

Esta foi a primeira disputa presidencial com voto obrigatório desde a mudança na legislação. O processo ocorreu sem ocorrências graves, mas enfrentou longas filas e forte calor. A votação ocorre exclusivamente em cédulas de papel, e a contagem é realizada manualmente, com fiscais lendo voto por voto diante do público.

Com pouco mais da metade das urnas apuradas, o presidente Boric reconheceu o desempenho dos dois candidatos que seguirão na disputa e defendeu que o país mantenha o diálogo e a estabilidade política. No campo da direita radical, Johannes Kaiser, que também concorreu na eleição, anunciou apoio formal a Kast, movimento que tende a reorganizar o bloco conservador no segundo turno. As informações foram divulgadas pela imprensa chilena e por agências internacionais.

Jeannette Jara, de 51 anos, é advogada, filiada ao Partido Comunista e considerada um nome moderado dentro da legenda. Ex-ministra do Trabalho do governo Boric, ela venceu as prévias da coalizão governista com 60% dos votos, em um processo que mobilizou cerca de 1,3 milhão de participantes entre filiados e independentes. Ganhou destaque nacional ao conduzir a reforma que reduziu a jornada de trabalho de 45 para 40 horas semanais, legislação que entrou em vigor em 2023 e será aplicada integralmente até 2028.

José Antonio Kast, de 59 anos, também advogado, foi deputado entre 2002 e 2018 e é um dos principais nomes da direita mais dura no país. Sua trajetória política é frequentemente associada ao passado militar chileno, já que seu irmão integrou o governo de Augusto Pinochet e seu pai foi soldado do Exército alemão durante o período nazista. Kast disputou a presidência em 2021 contra Boric e ganhou notoriedade internacional por propostas de linha dura, incluindo redução drástica da entrada de imigrantes irregulares e reforço policial em regiões atingidas pelo crime organizado.

O duelo entre Jara e Kast deve intensificar o debate sobre direitos sociais, economia e segurança pública, temas centrais para um eleitorado dividido e altamente mobilizado.