Violência e economia: um prejuízo bilionário invisível

Violência e economia: um prejuízo bilionário invisível

O Atlas da Violência 2025, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), estima que os impactos diretos e indiretos da violência representam aproximadamente 11% do Produto Interno Bruto (PIB) do país — o equivalente a mais de R$ 1 trilhão anuais.

O levantamento indica que cada morte violenta gera um custo médio de R$ 1 milhão para os cofres públicos, valor que engloba gastos com saúde, previdência, segurança, processos judiciais e perdas de produtividade. O avanço da criminalidade, além de comprometer a vida das pessoas, afeta o desempenho econômico, reduz investimentos, limita o turismo e enfraquece a confiança de consumidores e empresários. Somente os homicídios, segundo o estudo, resultam em prejuízos superiores a R$ 46 bilhões por ano.

As estimativas do Ipea mostram que o país poderia registrar um crescimento adicional de até 2,5% no PIB anual caso os homicídios fossem eliminados. Esse percentual corresponde ao impacto que a violência impõe sobre a economia brasileira por meio da redução da produção, da arrecadação e do bem-estar social.

O estudo também chama atenção para o peso do proibicionismo das drogas, que gera perdas próximas a 0,77% do PIB, cerca de R$ 60 bilhões anuais. Esse montante inclui os custos decorrentes de mortes e confrontos ligados a disputas entre facções e às ações de combate ao tráfico. Apenas no Rio de Janeiro, esse efeito é estimado em torno de R$ 8 bilhões por ano.

Os efeitos da criminalidade se manifestam tanto no curto quanto no longo prazo. Em períodos de violência intensa, o comércio fecha, o transporte é interrompido e a produtividade cai. Com o tempo, a insegurança também afeta a educação: crianças que vivem em áreas marcadas por tiroteios têm o aprendizado prejudicado, professores pedem transferência e o vínculo escolar se enfraquece. Esse cenário compromete a formação e reduz o potencial produtivo das futuras gerações.

No estado do Rio de Janeiro, um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC) estimou que as perdas relacionadas à criminalidade variam entre R$ 10,76 bilhões e R$ 11,48 bilhões. O estudo avaliou o impacto da violência urbana sobre o setor terciário e foi apresentado ao Ministério da Justiça em março. Para a CNC, medir os prejuízos econômicos da insegurança é fundamental para dimensionar a urgência de políticas públicas voltadas à segurança e ao desenvolvimento.

Outro recorte, feito pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), analisou dados de países do Cone Sul — incluindo Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai — e estimou que as perdas diretas causadas pela criminalidade chegam a 3,39% do PIB agregado da região. No caso brasileiro, o prejuízo social anual é calculado em R$ 372,9 bilhões, sendo R$ 32 bilhões apenas no Rio de Janeiro e R$ 13 bilhões decorrentes de crimes violentos.

Especialistas apontam que enfraquecer as redes financeiras e empresariais que sustentam o narcotráfico pode gerar resultados mais duradouros do que o simples confronto armado entre forças de segurança e facções criminosas. O foco em políticas de inteligência financeira e repressão a fluxos ilícitos é visto como estratégia essencial para reduzir a violência e seus impactos econômicos no país.

Adriana Nogueira

Adriana Nogueira

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