Arquidiocese de São Paulo proíbe transmissões de missas de padre Júlio

O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, determinou que o padre Júlio Lancellotti interrompa a transmissão de missas ao vivo e suspenda todas as suas atividades nas redes sociais. Além disso, o arcebispo avalia a possibilidade de transferi-lo da Paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, onde o sacerdote atua há cerca de 40 anos.

Segundo pessoas próximas ao religioso, ele recebeu uma carta assinada por Dom Odilo comunicando a eventual transferência e formalizando a determinação para que suspenda o uso das redes sociais. A decisão também incluiu o veto às transmissões online das missas dominicais, que vinham sendo acompanhadas por fiéis de diversas regiões do Brasil e do exterior, inclusive por meio do canal do ICL no YouTube.

A orientação do arcebispo teria sido apresentada como um período de recolhimento, com o objetivo de oferecer proteção ao padre. Nos bastidores, a medida foi interpretada como uma tentativa de reduzir a exposição pública do sacerdote.

Padre Júlio Lancellotti é amplamente conhecido por sua atuação em defesa de grupos socialmente vulneráveis, especialmente pessoas em situação de rua e integrantes da comunidade LGBTQIA+. Esse trabalho o transformou em alvo frequente de ataques virtuais, ações judiciais e campanhas de desinformação promovidas por grupos extremistas nos últimos anos. O religioso também se manifestou publicamente contra a ofensiva militar em Gaza e em defesa da população palestina.

Entre suas iniciativas mais recentes está a Biblioteca Wilma Lancellotti, instalada na rua Sapucaia, no bairro do Belém. O espaço, inaugurado recentemente, já reúne cerca de três mil livros doados e promove atividades culturais e rodas de conversa voltadas, principalmente, a pessoas em situação de rua.

Padre Júlio explicou que, pelas normas da Igreja Católica, sacerdotes podem ser removidos de suas funções ao completarem 75 anos, idade em que passam a ter direito à aposentadoria. Ele completará 77 anos no próximo dia 27. No entanto, segundo o próprio religioso, muitos padres permanecem em atividade por mais tempo, dependendo das necessidades da arquidiocese.

Diante das decisões anunciadas, fiéis da Paróquia São Miguel Arcanjo começaram a se mobilizar na tentativa de reverter as medidas adotadas por Dom Odilo, que tem aposentadoria prevista para abril.

A assessoria da Arquidiocese de São Paulo informou que não irá se manifestar sobre o caso, afirmando que o assunto diz respeito a uma decisão interna entre o bispo e o sacerdote.