Paralisações e dificuldades financeiras afetam entregas dos Correios
Às vésperas do Natal, os Correios enfrentaram um agravamento significativo nos atrasos de entregas, resultado da combinação entre dificuldades financeiras e paralisações em diferentes regiões do país. O cenário gerou preocupação no comércio eletrônico, especialmente em um período marcado por alta demanda e pouca margem para falhas logísticas.
Unidades localizadas em centros estratégicos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte tiveram suas operações comprometidas, levando a estatal a registrar o pior desempenho do ano justamente no momento mais sensível para o varejo. Indicadores internos mostram que o percentual de encomendas entregues dentro do prazo ficou abaixo de 70% na média nacional, variando conforme a região. O número está muito distante da meta corporativa de 96% e representa uma queda acentuada em relação a janeiro, quando o índice superava 97%. No início de dezembro, o desempenho já havia recuado para cerca de 76%, com registros diários ainda mais baixos, fazendo com que pelo menos três em cada dez encomendas chegassem com atraso.
Os reflexos dessa instabilidade já foram sentidos pelos consumidores. Compras realizadas com antecedência, inclusive internacionais, não chegaram no prazo prometido, comprometendo a entrega de presentes natalinos. Queixas sobre mudanças inesperadas de rota e prazos indefinidos se tornaram frequentes, afetando a credibilidade de um serviço tradicionalmente reconhecido pela ampla cobertura e previsibilidade.
A deterioração do serviço ocorre em meio a uma crise de gestão e de caixa. A atual direção estuda a contratação de um empréstimo de grande porte para regularizar dívidas com fornecedores e viabilizar um plano de reestruturação, que prevê fechamento de agências, programas de demissão voluntária e ampliação de parcerias com empresas privadas. O anúncio dessas medidas, porém, foi adiado, enquanto uma greve parcial motivada por impasses no acordo coletivo intensificou a instabilidade justamente no período de maior demanda.
Com isso, empresas privadas de logística passaram a absorver rapidamente a procura reprimida. Transportadoras relataram um aumento expressivo na busca por serviços por parte de varejistas, especialmente pequenos e médios empreendedores que dependem mais fortemente dos Correios. Sem estrutura própria, muitos desses lojistas precisaram recorrer a soluções alternativas de forma emergencial para cumprir prazos.
Algumas operadoras privadas registraram crescimento significativo no número de contratos e no volume de envios, impulsionados principalmente por pequenas e médias empresas das regiões Sudeste e Sul. Para atender ao aumento da demanda, essas companhias mantiveram a estrutura reforçada desde a Black Friday, com ampliação de centros de distribuição, frotas e contratações temporárias, além do reforço de entregas urbanas.
Nos grandes centros urbanos, a logística privada já predomina, enquanto a estatal mantém maior presença em áreas remotas, onde a operação é menos atrativa financeiramente. Ainda assim, crises em períodos críticos fortalecem a migração para modelos privados ou híbridos.
Além dos impactos imediatos no Natal, o prejuízo à imagem institucional é visto como progressivo. Em um setor que exige alto nível de confiabilidade, a percepção de instabilidade pesa mais do que justificativas operacionais ou trabalhistas. Para o consumidor, o efeito é direto na experiência de compra; para o mercado, representa uma reorganização acelerada das escolhas e rotas logísticas.
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